Com tanta gente interessada em trabalhar com estética e novidades de beleza surgindo a todo instante, dar aula virou um bom negócio para profissionais da área.
O setor da educação é um dos que mais cresce no Brasil e muitos profissionais que atuam na área da estética estão conseguindo surfar nessa onda para potencializar seus ganhos ou até mesmo dar um novo rumo para a carreira. O lado B dessa história é que há muita gente despreparada para essa tarefa tão nobre. “Ensinar é uma responsabilidade enorme porque a gente ajuda a formar profissionais que vão lidar com a vida, a saúde e a autoestima das pessoas”, diz a professora da área de estética, fisioterapeuta dermatofuncional, mestre e doutora pela USP Luciana Auad, gerente do campus da Anhembi Morumbi em São José dos Campos (SP).
Concorda com ela a fisioterapeuta dermatofuncional Mariana Negrão, professora há mais de 18 anos e criadora do Deteticista, o primeiro jogo educativo para professores de estética do país. “Acredito que todo profissional que resolva se tornar professor deve fazer uma pós em docência para o ensino superior. Só assim para ter base pedagógica, entender de plano de aula, de plano de ensino, formas de aprendizagem, etapas da avaliação, Taxonomia de Bloom, saber como estruturar uma aula com começo, meio e fim. A falta de conhecimento adequado, de técnicas, ferramentas e didática pode não só fazer o aspirante a professor se frustrar como também complicar a vida de alguns alunos”, alerta ela.
Aprender bem para ensinar bem
A professora Luciana Auad destaca que é fundamental ter um conhecimento aprofundado sobre o que se deseja ensinar. “É preciso ter amplo conhecimento técnico e teórico sobre fisiologia, patologias e os recursos existentes para tratá-las, bem como entender como atuam os protocolos indicados e cada recurso manual, equipamento e cosmético que os compõe. Só assim para conseguir ensinar ao aluno o modo correto de avaliar o paciente, entender o porquê das contraindicações e efeitos colaterais, indicar o tratamento mais adequado, prevenir intercorrências, saber como lidar com elas”, completa.
Respeitar a sua curva de aprendizado
Mariana Negrão conta que uma das coisas que mais a assustam hoje no mercado da educação é a falta de vivência adequada com o que se está aprendendo para, depois, conseguir lecionar sentindo-se confortável e seguro diante dos alunos. “É preciso respeitar a nossa própria curva de aprendizado. Ao ter aula sobre uma tecnologia xis também é preciso passar pela vivência clínica, de experimentar o procedimento, aplicá-lo, observar as reações e os processos que acontecem”, exemplifica.
Didatismo vale ouro
Luciana Auad reforça que, quando se é professor, tão importante quanto conhecer a fundo o tema da aula é saber ensiná-lo de forma com que todos os alunos entendam. “Claro que a didática é aperfeiçoada com a prática, no dia a dia de sala de aula, mas há metodologias de ensino que são ótimos para se ‘destravar’. No meu caso, ingressei na área técnica de uma empresa que me deu treinamento para atuar como educadora da marca. Como eu dava muito curso livre sobre os produtos e protocolos deles para profissionais, com o tempo me vi pronta para palestrar em congressos. Mas, só depois de me graduar e especializar é que me senti segura para dar aulas em graduação e pós-graduação”, conta.
A experiência de Mariana Negrão foi um pouco diferente: “Sinto que nasci para ser professora, tanto que já na infância eu brincava de dar aula; e me preparei ao longo de toda a minha trajetória para isso. Desde o primeiro ano da faculdade eu participava da monitoria, dando aula para meus colegas de anatomia, fisiologia, neuro… Depois, fiz duas pós e, dentro delas, fiz estágio e monitorei outros professores até realizar pós em docência do ensino superior – nela percebi que o conhecimento pedagógico faz toda a diferença na forma de lecionar, e isso mesmo quando a gente já tem a experiência de dar cursos livres e técnicos, como era o meu caso”, diz.
Professor é um eterno aluno
Além de surgirem novidades de beleza a todo instante, cada vez mais estudos são feitos, que, por vezes, apontam a necessidade de alterar protocolos que estavam pré-estabelecidos. “Por essas e outras o professor precisa estar sempre estudando, fazendo cursos, se capacitando e atualizando para oferecer o melhor a seus alunos. A gente sabe que essas formações são onerosas, difíceis, tomam tempo e, por isso, acabam levando muitos a desistirem de dar aula. Mas, por experiência própria, afirmo que não tem como fugir dessa trilha, até porque quanto mais tempo de estrada você tiver, um melhor professor você se tornará”, garante Mariana Negrão.