Ansiedade, estresse e outros fatores emocionais provocados pela pandemia podem impactar diretamente na saúde da pele e do cabelo, provocando o surgimento ou agravamento de algumas doenças dermatológicas. Entenda o motivo, quais os quadros mais comuns e como tratar.
O estresse, a ansiedade, o medo, o sono desregulado e diversos outros fatores de sobrecarga emocional desencadeados durante o período de pandemia – tudo isso pode ter causado efeitos que estão aparecendo na pele e no cabelo, como alergias, dermatite, acne, queda de cabelo e quadros inflamatórios. “A pandemia está afetando a pele de várias maneiras: desde a exacerbação de doenças prévias que sofrem influência emocional como dermatite seborreica, psoríase, alopecia, doenças sistêmicas com manifestações cutâneas devido à queda de imunidade por estresse emocional, até as manifestações decorrentes da covid-19. Vale ressaltar ainda que, além da questão emocional, tenho visto um aumento de acne, em todas as idades, e dermatites da pele da face devido ao uso das máscaras de proteção”, relata a dermatologista Letícia Bortolini, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Emoção na pele
A chamada Psicodermatologia, uma subespecialidade primariamente dermatológica, que estuda as interações entre a mente e a pele, pode explicar o impacto dos fatores emocionais sobre a saúde cutânea. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia, uma das explicações para a estreita relação entre o cérebro e a pele está no fato de que ambos provêm do mesmo tecido, o ectoderma, a camada externa do embrião, e são afetados pelos mesmos hormônios e neurotransmissores, o que faz com que sejam intimamente ligados. “A pandemia trouxe um turbilhão de sentimentos como incertezas, medo, a necessidade em lidar com as perdas de pessoas queridas, perdas financeiras, distanciamento social e tantos outros sentimentos que resultam em aumento do nível de estresse, transtornos emocionais e consequentemente alterações hormonais. A nossa pele interage com os sistemas: endócrino, imunitário e o nervoso central, portanto temos motivos de sobra para as alterações dermatológicas”, destaca a professora e esteticista Regina Gante.
Segundo Regina, houve inclusive um aumento de doenças psicodermatológicas durante o período. “Os clientes com queixas frequentes e os amigos médicos têm relatado um crescimento de casos de dermatites, psoríase, urticárias, entre outros”, revela.
Tratamento multidisciplinar
Independentemente da causa ser ou não emocional, ao notar qualquer alteração na pele, é importante consultar um médico dermatologista para o melhor diagnóstico e orientação de tratamento. “E na medida do possível fazer alguma atividade física ou meditativa para controle das emoções e ansiedade, e praticar a alimentação consciente para não exagerar em doces e gorduras como meio de compensar o medo e a ansiedade”, indica Letícia Bortolini.
Para os casos de doenças desencadeadas por fatores emocionais, é recomendado buscar a intervenção multidisciplinar com apoio de psicoterapia e dermatologia para obtenção de melhores resultados. “Antes de tudo, tratar as doenças, mas não só os sintomas. É importante uma abordagem mais ampla, enxergar o paciente como um todo e na grande maioria das vezes há indicação da psicologia e psiquiatria”, diz Regina Gante.
Além disso, o profissional de estética pode auxiliar no tratamento. “Os médicos podem monitorar e encaminhar esses pacientes para protocolos de limpeza de pele, hidratação para as peles com dermatites, terapia capilar e outros relacionados com a especialidade da área”, relata a dermatologista. De acordo com Regina, é comum que a queixa apareça antes para o esteticista. “Cabe ao profissional saber o limite da sua atuação e quando necessário indicar para outros profissionais. Já na sua atuação deve identificar a necessidade de cada pele e ter como premissa que o resultado final será uma pele saudável. O profissional deve pensar na hidratação, na manutenção da porção lipídica, no pH e microbiota, assim devolvendo saúde à pele. Uma vez saudável, terá condições de desempenhar suas funções em equilíbrio. Além da atuação na pele, podemos trazer uma atmosfera mais relaxante para os nossos atendimentos, cuidando também do emocional. Acolher o cliente em um ambiente agradável, utilizar óleos essenciais e argilas e incluir massagens relaxantes, assim o paciente também poderá ser beneficiado melhorando seu nível de estresse e cansaço. Vale destacar que o profissional deve pensar também no seu bem-estar, só assim conseguirá proporcionar tudo isso ao cliente”, conclui.