Entenda os riscos que envolvem o uso do PMMA na estética, em quais casos ele é indicado e os cuidados que o profissional da área da saúde estética deve tomar ao atender um paciente que possui esse tipo de preenchimento.
Mais uma vez o PMMA ganha as manchetes, e, de novo, devido a uma tragédia. Desta vez, a vítima fatal foi a influenciadora digital Aline Ferreira, de 33 anos, que não resistiu às complicações causadas pelo aumento do volume de glúteos com polimetilmetacrilato – segundo as investigações, foram aplicados 30 ml de PMMA em cada glúteo.
Para entender como essa substância que tem uso liberado pela Anvisa segue fazendo vítimas, ESTETIKA conversou com a dermatologista Mônica Aribi, sócia efetiva da Sociedade Brasileira de Dermatologia, e com a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, que é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e membro do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida; acompanhe.
O que é o PMMA?
“Abreviação de polimetilmetacrilato, o PMMA é um produto derivado do acrílico permanente, daí o organismo não conseguir metabolizar nem absorver o produto. Além disso, ele pode causar uma reação inflamatória ao seu redor, como se o corpo estivesse se defendendo do preenchimento, e, para isso, forma nódulos endurecidos. Vale destacar que essas manifestações podem ocorrer meses ou até anos depois da aplicação. No entorno da substância ainda pode ocorrer a proliferação de micro-organismos, chamado biofilme, que oferecem resistência ao tratamento com antibióticos”, esclarece a cirurgião plástica Beatriz Lassance. Segundo ela, quando há uma queda na imunidade, infecção em local próximo, procedimento invasivo ou cirurgia no mesmo local, esse biofilme pode ser ativado e ocorre uma infecção, levando à necessidade tratar com antibióticos ou remover o PMMA.
Por que tanta gente ainda usa o PMMA?
“O PMMA atrai muitos pacientes por ter baixo custo e efeito permanente. Daí a importância de esclarecermos que, mesmo quando não há complicações, o PMMA, muitas vezes, não é capaz de gerar satisfação definitiva. Isso porque o processo de envelhecimento pode causar mudanças estruturais que não são acompanhadas pelo produto, tornando-o mais proeminente e gerando efeitos inestéticos”, diz a dermatologista Mônica Aribi.
O PMMA é liberado pela Anvisa?
A Anvisa classifica o PMMA como classe IV, de máximo risco, e permite o uso da substância em apenas duas situações: para correção de lipodistrofia provocada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com Aids e para correção volumétrica facial e corporal em casos de irregularidades e depressões, como as causadas por poliomielite. Em um comunicado recente, a Anvisa reforçou que não há a indicação do uso de PMMA para aumento de volume, seja corporal ou facial; e que cabe ao médico responsável avaliar a aplicação de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto.
Diante de complicações, é possível remover o PMMA?
“Sim, o PMMA pode ser removido. Mas, como ele se integra aos tecidos, é muito difícil fazer sua remoção completa e isolada, o que ainda pode deixar cicatrizes e defeitos no local. E mais de um procedimento pode ser necessário”, antecipa Beatriz Lassance. De acordo com a médica, a gordura pode ser uma opção para preencher o defeito causado pela remoção do PMMA. “Mas esse é um procedimento cirúrgico, já que a gordura é retirada do próprio paciente, tratada e reinjetada no local do defeito”, explica ela.
Quais os sinais de que o PMMA precisa ser removido?
“Sinais de inflamação ou infecção, como edema, dor, calor local e piora do endurecimento, indicam complicações provocadas pelo PMMA”, lista Beatriz Lassance.
Por vezes nem a própria pessoa sabe que tem PMMA. Há alguma forma do profissional da área da saúde estética se certificar ou pelo menos desconfiar de que seu paciente possui PMMA?
“Infelizmente essa é uma realidade comum, já que na grande maioria das vezes o paciente não tem ideia de que produto foi injetado nele. Para se certificar da presença do PMMA, podemos usar o ultrassom, que é um aliado dos profissionais que realizam procedimentos injetáveis. O equipamento apresenta imagens diferentes dependendo da substância utilizada, e o diagnóstico pode ser realizado”, diz a médica. Ela avisa: “Se o profissional não possui o aparelho de ultrassom em seu espaço, ele pode solicitar um ultrassom dermatológico realizado por radiologistas especializados, que devolvem um mapeamento das substâncias já injetadas”.
Quais procedimentos estéticos não podem ser realizados na região preenchida com PMMA?
“Qualquer procedimento apresenta um risco de ativação do biofilme e aumento da inflamação do local do PMMA. A aplicação, por exemplo, de ácido hialurônico pode ativar essa infecção e o paciente obviamente vai atribuir ao preenchimento feito por último. Daí a importância de realizar uma boa consulta e, na dúvida, solicitar o ultrassom”, alerta a cirurgiã plástica Beatriz Lassance.