Diante da confusão, ao que o profissional de estética deve ficar atento, especialmente se notar que os procedimentos não estão surtindo efeito.
A estimativa atual é de que uma em cada 10 brasileiras tenha lipedema, um acúmulo desproporcional de gordura em áreas como coxas, culotes, pernas e, eventualmente, braços. “Basicamente é aquela mulher magra da cintura para cima e grande da cintura para baixo, que passa pela vida como ‘falsa magra’, assim chamada por ter pernas grossas, e que acredita que isso é um padrão de corpo familiar”, esclarece a cirurgiã vascular Aline Lamaita.
Aí há outro dado importante sobre o lipedema: “Sabemos que se trata de uma doença genética, mas essencialmente do público feminino. Existe uma forte correlação entre distúrbios hormonais e o avanço dessa enfermidade. Por isso, observamos picos de piora em períodos hormonais, como puberdade, uso de anticoncepcionais, gestação e menopausa”, completa a médica.
Doença nova
Poucos profissionais de saúde sabem diagnosticar e lidar com o lipedema. Isso porque até 2021 ele não era considerado uma doença, daí a literatura científica sobre seus mecanismos ainda ser muito pobre. “Mas, a comunidade médica está tomando mais consciência e se capacitando para o tratamento, que é multidisciplinar e deve começar pelo cirurgião vascular e ter acompanhamento com nutricionista, fisioterapeuta e, eventualmente, ortopedista e cirurgião plástico. Não há cura, mas há controle, que pode ser feito com tratamento da circulação, modulação de inflamação de baixo grau, dieta anti-inflamatória, fisioterapia especializada e, por vezes, lipoaspiração”, esclarece Aline Lamaita.
Será lipedema?
Há grandes chances do profissional de estética atender um paciente com a doença e acreditar se tratar de inchaço, celulite ou gordura localizada. “Além da distribuição típica da gordura em pernas, coxas, culotes e, às vezes, braços, chama atenção o fato da gordura lipedêmica geralmente ser diferente da gordura localizada “normal”. Primeiro, porque ela tem uma dificuldade muito maior para ceder ao tratamento estético. Segundo, porque ela pode ser nodular, ter fibrose associada e, em alguns casos, provocar muita dor ao toque. Sabemos hoje que até nos estágios mais iniciais do lipedema podemos ter acometimento do sistema linfático”, avisa Aline Lamaita.
Estética versus lipedema
Diante da real confusão que pode haver na identificação da doença, surge a pergunta: há riscos de fazer tratamento estético quando o que a paciente tem, na verdade, é lipedema? “A maior probabilidade é a frustração de não ver resultado, já que não existe nenhum tratamento estético focado na gordura do lipedema que vá responder bem antes de uma intervenção e compensação do estado inflamatório. Até para realizar a lipoaspiração da gordura lipedêmica é mandatório fazer um tratamento clinico prévio. A falta desse preparo pode evoluir em curto prazo para um aumento de acúmulo de gordura em outras áreas do corpo, até atingindo a gordura abdominal, piorando o risco cardiovascular”, destaca a cirurgiã vascular.
Concorda com ela a esteta, cosmetóloga e psicóloga Paula Chagas: “Para evitar confusão, o profissional de estética precisa entender sobre obesidade, gordura localizada e celulite, além de atentar para a saúde em geral do paciente e, se for preciso, encaminhá-lo para um especialista. Se o lipedema não for diagnosticado corretamente, a pessoa não conseguirá ver uma melhora com os procedimentos estéticos e a dor vai persistir”, reforça Paula Chagas.