Especialistas apontam que a próxima geração combina filtros mais seguros e fotoestáveis, proteção ao DNA, cobertura contra luz visível e estratégias internas; eles explicam o que a polêmica na Austrália ensina sobre testes e uso correto
A polêmica que sacudiu a Austrália — país com as maiores taxas de câncer de pele — expôs falhas graves na cadeia de testes e rotulagem: um levantamento independente apontou que 16 dos 20 protetores analisados não entregavam o FPS (fator de proteção solar) prometido.
Confiar só no rótulo não basta, pois a fotoproteção precisa integrar validação séria, uso correto e estratégias além do filtro tradicional. Para os farmacêuticos Lucas Portilho e Mika Yamaguchi, o futuro da fotoproteção passa por ciência aplicada, personalização e educação do consumidor.
Por que a polêmica australiana importa?
Para Mika Yamaguchi, parte da confusão nasce do descompasso entre teste e uso real: “Os testes são realizados com 2 mg/cm². Sabemos que utilizamos uma quantidade bem menor. O Brasil segue as normas da COLIPA (atual Cosmetics Europe), que padroniza a relação dos testes necessários para termos um fotoprotetor que realmente entregue o que está descrito no rótulo, com uma grande revisão de todos os pontos dos testes”.
Lucas Portilho acrescenta que, no Brasil, a verificação é acessível e difundida: “Os testes de fator de proteção solar são muito acessíveis — em torno de R$ 2.500, feitos uma única vez. É um investimento pequeno diante da segurança e da credibilidade que ele garante ao produto. Para comparar, um estudo de antirrugas pode custar mais de R$ 100 mil. Então, gastar R$ 2.500 ou até R$ 5 mil, caso seja necessário refazer o teste, é insignificante perto do custo total de um lançamento. É um valor baixo para um benefício enorme: garantir que o protetor entregue o FPS prometido e mantenha a confiança do consumidor”.
Novas frentes: filtros e ativos do futuro
“O futuro será composto por moléculas muito seguras, grandes, de baixa permeação e principalmente fotoestáveis, juntamente com ativos que reduzem o dano no DNA”, diz Lucas Portilho. Ele cita a hidroxiapatita como exemplo recente com ação contra UVA e UVB.
Fotoproteção interna e personalizada
Mika Yamaguchi destaca a personalização por fototipo, estilo de vida e até dispositivos vestíveis que monitoram radiação. Ela também aponta o papel crescente dos probióticos tópicos para reforçar a resposta antioxidante e anti-inflamatória natural da pele.
Lucas Portilho defende os nutricosméticos como complemento — nunca substituto: “Gosto de nutricosméticos que complementam o uso do protetor, importantes para diminuir a peroxidação lipídica.”
Além do UV: luz visível, azul e poluição
“Entre todas as cores da luz visível, a azul é a mais energética”, explica Lucas Portilho. O problema maior é a luz solar (não a iluminação interna), que pode piorar o melasma e a hiperpigmentação. Desse modo, ativos de ação biológica e protetores com cor para filtrar parte da luz visível/azul são soluções.
Mika Yamaguchi lembra que há ativos que ajudam a resguardar a pele do calor, da luz visível/azul e da poluição — como o Physavie (efeito termoprotetor e ação anti-inflamatória) e o Fensebiome (heptapeptídeo com ação pré e probiótica que fortalece a barreira cutânea).
Adesão sem extremos
Lucas pede equilíbrio: “Sou contra os extremos: nem todo mundo precisa usar protetor diariamente e nem todo mundo precisa de FPS alto.” A orientação deve considerar a rotina, o ambiente e o tom de pele.
Para Mika Yamaguchi, a educação é a melhor forma de conscientizar sobre a importância do uso correto e de diminuir o índice de melanomas cutâneos.
“Não é somente o uso de filtros solares que nos protege — as vestimentas também têm um papel importante, sejam elas com proteção UV ou não. E hoje, com as mídias sociais, é possível mostrar, com base na ciência e de forma lúdica, a importância do uso adequado dos filtros para se ter uma pele saudável”, diz.
Quer seguir aprofundando seus protocolos de pele e fotoproteção? Entenda como escolher o protetor solar ideal.Créditos: freepik.com