É fato: a pandemia do coronavírus trouxe uma crise mundial, impactando diversos setores, inclusive o segmento de beleza e de estética. Mas será que vale a pena inovar e empreender nesse período? Saiba que o empreendedorismo na pandemia é possível e pode ser um caminho promissor para enfrentar a crise.
A pandemia da Covid-19 afetou diversos setores e no mercado de estética, o cenário não foi diferente. Muitos empreendimentos tiveram uma longa pausa devido às restrições e por causa da necessidade de distanciamento social, muitas clínicas de estética sofreram um grande golpe levando inclusive ao fechamento. E para os profissionais de estética que resistiram à crise, esse momento é crucial para a retomada das atividades. Embora seja um período de muitas incertezas e angústias, é tempo de refletir sobre como está conduzindo os negócios e quais os pontos frágeis que devem ser trabalhados para assim se fortalecer e superar a crise.
Nesse cenário, uma pesquisa realizada pela Inovasia Consulting apontou algumas tendências de consumo no mundo pós-pandemia. Entre elas, a retomada veloz no consumo, mas sem planos a longo prazo: “para muitos analistas, o fenômeno pode ser explicado por um efeito “indulgência”, em que, após longa privação, o consumidor decide “se dar um presente””. Daí, a importância de estar preparado para a retomada. “Como em todos os setores, no segmento da estética não foi diferente. Houve queda considerável, pois não teve classificação como atividade/serviço essencial e desta maneira sem poder atender, tanto os profissionais autônomos, como clínicas ficaram muito tempo fechados e isso gerou grande dificuldade e prejuízo financeiros. Este foi e está sendo um momento de grande reflexão aos profissionais da estética que não mantinham reservas financeiras, o que dificultou e muito a manutenção de seus negócios nos meses de restrições”, avalia o professor Felipe Abrahão, especialista em Gestão de Saúde Estética.
Segundo Daniela Martello, fundadora da Viver de Estética Business School e especialista em gestão e vendas no mercado de estética, um dos maiores desafios quanto à gestão diante do cenário atual é manter as contas em equilíbrio. “Quem tem um espaço e colaboradores, tem um custo fixo mais elevado. Outro grande desafio, é manter a equipe motivada e engajada, além, é claro da maior dificuldade, na gestão de marketing, que é entender que o comportamento do consumidor vem mudando a cada dia, numa velocidade muito maior que antes da pandemia”, destaca Daniela, que também é administradora de empresas, especializada em marketing e em gestão de vendas, coach e practitioner em PNL.
Felipe Abrahão cita ainda outros desafios: “O medo do vírus: o paciente continua com o medo superior a qualquer outro cuidado e o profissional desatento o perde, momentaneamente ou até permanentemente. Outra questão é o não uso das mídias sociais para a proximidade com o cliente: mesmo em fase mais restrita, a possibilidade de videoconferência, áudios, esclarecimentos e principalmente orientações para cuidados na fase citada fizeram a diferença para que os profissionais pudessem manter o elo”.
Mas afinal, o que é empreender?
Antes de tudo, é importante entender o que significa empreender. Conforme o Dicionário Michaelis, o termo significa “resolver-se a praticar, tentar, pôr em execução, fazer, realizar”. “Na minha experiência, empreender tem muito mais a ver com construir uma carreira ou uma empresa com inabalável propósito. Realizando o que é preciso para atingir os objetivos, com ousadia, criatividade, ética e, sim, ambição. Empreendedorismo está muito mais ligado com o desejo de fazer mais, realizar mais, de contribuir mais com a sociedade do que com a posse de um CNPJ. Tem mais a ver com atitudes, com ações, hábitos, valores, construção de um legado e tudo isso pode ser adquirido ao longo do tempo”, revela Daniela Martello.
O professor Felipe Abrahão diz que empreender é o ato de atingir o sucesso pela estrutura de um bom planejamento. “É necessário que cada indivíduo que objetive posicionamento de mercado crie o hábito de planejar quaisquer ações que envolvam as atividades profissionais e a excelência no atendimento aos clientes. Por meio desta organização, consegue-se prever até mesmo os possíveis entraves nas práticas diárias e com isso projetar as devidas correções para que tudo flua naturalmente, mesmo que exija uma rota de correção”.
Entre as principais características empreendedoras, Felipe Abrahão destaca: organização, senso de inovação, boa comunicação, análise de concorrência e projeções futuras. “A principal característica de grandes empreendedores com quem tive a honra de trabalhar ou de aprender, é o entusiasmo. Eles têm em comum uma grande paixão por suas ideias e projetos. Grandes empreendedores também são realizadores, ou seja, não deixam nada para depois. Outras características são ousadia e flexibilidade. E para finalizar, a conexão com pessoas: um empreendedor sozinho dificilmente chega muito longe”, completa Daniela Martello.
Empreender ou não empreender, eis a questão
A resposta de Felipe Abrahão é: “Com toda a certeza sim! Existem estudos de mercado que comprovam que grandes crises geram grandes inovações mercadológicas”. Daniela Martello acrescenta: “Momentos como esses que estamos vivendo pedem inovação. Não adianta insistir em velhas receitas. Inovar é entender as necessidades atuais do público-alvo e criar algo que resolva essa necessidade com as ferramentas que você já tem. Nada melhor do que conhecer sua realidade atual para tomar decisões. É preciso investir tempo na organização das finanças, do estoque, dos aparelhos. Colocar sua situação atual no papel: Quanto dinheiro tenho como reserva? Quanto estou devendo? Quais recursos eu tenho? E, a partir disso, traçar metas e definir as ações que serão realizadas para que os objetivos sejam alcançados”.
A seguir algumas dicas dos especialistas Daniela Martello e Felipe Abrahão.
– “Hoje o consumidor de tratamentos estéticos quer cada vez mais a personalização de seus atendimentos e isso se torna uma garantia de fidelização. Os profissionais que demonstram a individualização no estudo para a montagem dos tratamentos trazem confiabilidade ao indivíduo que busca quaisquer melhorias e isso geralmente resulta na propagação deste profissional ou estabelecimento. Foi-se o tempo que o paciente aceitava ser peça deitada na maca apenas recebendo protocolos, hoje a humanização é trunfo para garantia desta referida satisfação”, diz Felipe.
– “Não se trata de fazer um curso ou entrar para o licenciamento de um método, mas de atender a uma demanda que já existe, com habilidades, produtos, aparelhos e acessórios que você já tem. Tudo isso relacionado às grandes objeções do momento: redução de verba e medo de sair de casa. Então, se as pessoas pensam em economizar nesse momento, por que vender planos com muitas sessões? Pode diminuir o tamanho dos planos, e já contornar a objeção do medo de sair, aliando esses planos ao chamado “self care”, tratamento feito em casa, com produtos e acessórios comprados na sua estética, com acompanhamento do profissional feito de forma remota, através de videochamada, por exemplo”, indica Daniela.
– “Precisa ter disposição para agir. Na gestão, eu sempre digo que as ações funcionam como protocolos estéticos. Tem começo, meio e fim. É preciso planejar, executar, analisar resultados e indicadores, ajustar e repetir. É como um ciclo e precisa estar em movimento sempre”, ressalta a administradora.
– “Consulta online: há muitas variações sobre como o serviço é prestado ou vendido, mas tenho uma aluna, por exemplo, que vende um “gerenciamento de pele” online, com encontros individuais semanais por videochamada. Ela cobra de forma recorrente, por mês. Recomenda e vende os produtos dermocosméticos, nutracêuticos e acessórios. Posso dizer que ela está sem espaço na agenda há meses”, revela Daniela.
– “Outra dica é realizar a venda de produtos dermocosméticos para home care. Se blogueiras, que nada conhecem de fisiologia e cosmetologia, vendem e oferecem cupons de diversas empresas de produtos de varejo, imagina essa venda feita por um profissional de estética, que realmente entende de pele?”, questiona Daniela.
– “Cursos, aulas ou e-books: cada dia mais presente em nossas vidas, o mercado digital veio para ficar. E, para quem gosta de ensinar ou de escrever, existe essa opção dos produtos digitais. Eles podem ser direcionados para outros profissionais ou para o próprio consumidor final e podem não apenas gerar receita, como ultrapassar seu maior faturamento. Pergunte a si mesma o que você domina e tem resultados extraordinários: limpeza de pele, redução de gordura, terapias manuais, Instagram, entre outros”, diz a especialista.
– “Mentorias, treinamentos e consultorias: muito parecida com a anterior, essa modalidade é normalmente individual e preferencialmente, presencial, portanto, pode custar mais caro. Recebo diariamente, pedidos de consultoria em criação e montagem de protocolos, treinamentos de equipamentos ou de conduta técnica; consultoria para abertura de clínicas, treinamentos a donos de clínicas que não entendem de estética”, conta Daniela. – “Esse é um momento bastante delicado em que para obter resultados, é preciso estar em movimento e presente nas redes sociais: manter o relacionamento com o cliente ativo; manter-se atualizado e capacitado, estudando, criando novas possibilidades de atendimento, novos protocolos que atendam as necessidades atuais e principalmente, não se deixar paralisar pelo medo e insegurança”, conclui a fundadora da Viver de Estética Business School.