Um dos movimentos globais que está influenciando de maneira mais significativa o mercado da estética é o da beleza inclusiva, que se mostra um admirável mundo novo de oportunidades para quem tiver a sensibilidade de entender as demandas desse “novo” consumidor que se guia pelo mote “minha beleza, minhas regras”.
Inclusão. Essa palavra cravou espaço no mercado cosmético, e não foi só o consumidor quem ganhou com isso. Com as pessoas querendo ser valorizadas pelo que são e passando a se guiar pelo mote “minha beleza, minhas regras”, deu-se início a uma corrida por uma maior grade de produtos e serviços que atendam necessidades específicas, sejam elas relacionadas à cor da pele, à idade, à textura do cabelo, às curvas do corpo, à definição pessoal e individual que cada um tem a respeito do que é se sentir bem e belo e também à sua visão de mundo – que tem levado ao crescimento exponencial de categorias cosméticas como vegano, orgânico, natural e sem gênero, entre outras.
Segundo a agência de pesquisa Euromonitor, esse posicionamento autocentrado do consumidor tem estimulado o desejo por cosméticos e tratamentos efetivamente direcionados às suas particularidades. Isso pode ser traduzido, por exemplo, no interesse por maquiagens com uma paleta de nuances extensa, linhas de skincare para peles 60+ e 70+, perfumes sem gênero, ou seja, sem identificação expressa de ser feminino ou masculino. Junte aí a busca por produtos capilares para as várias texturas e curvaturas dos fios, inclusive os assumidamente brancos, e cosméticos que levam em conta valores pessoais, como responsabilidade social, questões ambientais e filosofia zen, caso dos orgânicos, veganos, naturais, com fragrância calmante.
Diante desse cenário, a beleza inclusiva virou estratégia empresarial para acessar segmentos da população que não eram atendidos. E, a excelente oferta de cosméticos multiculturais, para uso profissional inclusive, ainda permitiu que os profissionais pudessem exercer a criatividade no desenvolvimento de tratamentos inclusivos, que ajudam a se diferenciar num mercado cada vez mais competitivo.
Como deu para perceber, a beleza inclusiva poderia ser traduzida como a busca por sentir-se bem na própria pele, do seu jeito pessoal e único e tendo produtos e serviços que atendam às especificidades individuais e que celebrem as diferenças. Portanto, para se alinhar a esse movimento, o primeiro passo é olhar para o consumidor como indivíduo e estudar seu comportamento e suas necessidades pessoais – uma tarefa que tende a não ser tão árdua para o profissional da área de beleza e estética, que naturalmente já desenvolve uma relação mais próxima e customizada com o cliente durante o atendimento. “Sempre tive uma visão muito sensível sobre a beleza inclusiva, e ela bateu ainda mais forte quando resolvi assumir meu cabelo branco por achar que o nível de estresse por ter que retocar a raiz a cada sete dias era infinitamente maior do que o prazer de ostentar os fios ruivos. Estou ótima assim, me sinto bem e bonita, e esse foi um dos muitos motivos que me levaram a extrapolar e fazer várias mudanças na ficha de anamnese que usamos no EG Estética. Para ter ideia, ela passou a ter 80 questões em vez de 30”, conta a esteticista e especialista em cosmetologia Edy Guimarães, de São Paulo. “Agora, não apontamos mais rugas, gordura localizada, flacidez, pelos, até porque a nova geração conquistou a liberdade de não precisar depilar as axilas se não quiser. Por isso passamos a fazer perguntas como “de 0 a 10, quanto você está satisfeito com o seu rosto” e “você gostaria de falar algo sobre o seu corpo?”. Com tudo isso, posso dizer que abri meus olhos para o fato de que afirmações como “você precisa tratar rugas” e “você precisa fazer drenagem” não cabem mais hoje em dia. E com a atual anamnese acredito que deixei de ser mais invasiva para ser mais inclusiva”, completa Edy Guimarães.
Inclusão passa por reflexão e atualização profissional
O enfermeiro e esteticista Suélio Ribeiro, do Rio de Janeiro, acredita que o longo período de isolamento social imposto pela Covid-19 fez muita gente desacelerar, repensar escolhas e olhar mais para si mesmo, inclusive com mais carinho. “Eu também fiz isso, porque minhas viagens de trabalho reduziram mais de 80%. Então, tive muito tempo para refletir sobre minha atuação profissional, a ponto de acreditar que a pandemia foi um divisor de águas para eu rever o meu pré-atendimento. Sempre defendi a importância da boa avaliação, mas antes dela tem o jeito como você recebe o cliente, o ouve, dá mais atenção para entender as necessidades específicas e individuais dele. Porque ter o melhor produto para oferecer é fundamental, mas a arte de receber e atender essa pluralidade de beleza que temos no Brasil vai ser decisivo para o sucesso do profissional no pós-pandemia”, acredita Suélio Ribeiro. Vale lembrar que praticar a beleza inclusiva também exige conhecimento aprofundado sobre os diferentes tipos de pele, já que cada uma tem características específicas. “A pele escura, por exemplo, reage a qualquer inflamação produzindo uma quantidade enorme de melanina no local, gerando uma mancha. E, apesar de ser mais firme e endurecida por possuir mais camadas, ter um número maior de fibroblastos, que são as células produtoras de colágeno, e o fato dessas fibras serem bastante compactas, ajuda a entender porque uma técnica inadequada de micropigmentação, que machuque essa pele, vai fazer com que ela reaja produzindo tanto colágeno a ponto de causar cicatrizes ou até queloides”, alerta a dermatologista Katleen Conceição, do Rio de Janeiro. Fica a dica para se aperfeiçoar cada vez mais.