Influenciadas pelas redes sociais, crianças de 8 a 12 anos viram ávidos consumidores de cosméticos e trocam festa de aniversário por dia de beleza na clínica de estética; como cuidar de uma pele tão jovem?
A discussão sobre crianças poderem usar ou não cosméticos tem ganhado novas questões, principalmente com a moda de celebrar o aniversário ao lado da mãe ou das amigas em um dia de beleza na clínica de estética e com as grandes lojas de produtos permitirem que os pequenos façam compras entre os adultos. Envolvido nessa polêmica também está o profissional de saúde estética, que é cada vez mais solicitado para atender os filhos de suas clientes. “Na minha experiência, tem sido muito mais comum a própria criança pedir para a mãe levá-la na esteticista do que a mãe decidir sozinha agendar uma consulta ou tratamento para sua filha ou filho”, conta a esteticista Sandra Seabra.
Prova de que essa é uma realidade vivida por muitos profissionais é que ela foi tema de uma palestra no último congresso do IMCAS, em Paris. “Foi lá que ouvi o termo cosmeticorexia, um neologismo que se refere a esse fenômeno, essa febre de crianças com skincare, em que elas ficam extremamente preocupadas com a aparência e passam a usar produtos em busca da perfeição. As mais acometidas têm entre 8 e 12 anos”, conta a dermatologista Valéria Campos, especialista em laser pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Como é a pele da criança
A dermatologista destaca que o atendimento às crianças deve ser completamente diferente do realizado às mães delas. “É essencial que o profissional de saúde estética tenha em mente que na infância a pele é mais fina, mais permeável e suas glândulas sebáceas não funcionam tão bem quanto na vida adulta, o que deixa a pele da criança mais suscetível a alergias e até a infecção. Outra característica da infância é o pelo bem fininho, e grande parte do que se aplica na pele penetra por ali”, alerta a médica.
Cosmético ideal para crianças
“Como crianças ainda estão em fase de formação e são mais sensíveis à alergia, é superimportante que o cosmético usado nelas seja hipoalergênico, livre de fragrância e, se possível, com nenhuma ou pouca cor. Aqui, vale redobrar a atenção, porque hoje não faltam opções feitas para chamar a atenção, repletas de corantes, com cheiro de frutas ou doces, glitter”, reforça Valéria Campos.
Outro cuidado que deve ser tomado é com relação à procedência do produto, especialmente os baratinhos que inundaram as lojas e a internet. “Geralmente eles contêm derivados de petróleo e metais pesados e não têm registro na Anvisa. Também é necessário observar o pH, inclusive de itens tido como ‘básicos’, como o sabonete. Nesse sentido, uma boa escolha é a tecnologia syndet, em que o produto fica isento de sabão, possui pH fisiológico e sua fórmula usa agentes que higienizam e protegem a camada externa da pele”, explica a médica. Ela completa: “Tenho visto muita gente achando que produtos veganos estão totalmente liberados para serem usados em criança. Não é bem assim. Há até um artigo em que sou coautora falando sobre isso. O ideal é sempre avaliar a composição, seja vegano ou não”.
Protetor solar infantil
Valéria Campos destaca que o protetor solar não pode ser oleoso, porque nessa fase a criança já pode desenvolver acne. “O filtro deve ter boa qualidade e proteger da radiação ultravioleta A, que é a parte do espectro que não queima, mas pode favorecer o aparecimento de manchas e câncer de pele no futuro – algo que deve ser considerado com seriedade, já que esse tipo de tumor é o mais comum no Brasil e a previsão é de que essa geração chegue facilmente aos 100 anos de idade. Os protetores mais baratos geralmente só protegem contra os raios UVB; para se certificar, é preciso ler o rótulo com atenção”, avisa a médica.
Papel do esteticista no cuidado com a criança
Tendo participado de várias edições do Congresso Estetika, a dermatologista Valéria Campos reconhece que o esteticista é um grande aliado do médico. “Tanto que tenho quatro trabalhando comigo na clínica! Normalmente, o esteticista é o primeiro profissional a ter contato com o paciente, antes mesmo do dermatologista; isso sem contar a frequência dos encontros, que é muito maior, o que permite realizar um acompanhamento maravilhoso, próximo, fazer uma ótima orientação e identificar problemas cutâneos que a pessoa sozinha não seria capaz de observar”, diz ela.
A médica completa: “Além disso, o esteticista tem muito tratamento para oferecer. Em caso de acne, por exemplo, há a limpeza de pele, que é a base de todo cuidado que será feito, bem como o uso de LED, para acalmar a pele. Acrescente aí os peelings mais superficiais, os protocolos com ácido salicílico, mandélico e até glicólico em concentrações baixas, as máscaras hidratantes, a massagem relaxante e outras terapias manuais”, diz. Ou seja, comemorar o aniversário na clínica de estética está liberado, desde que sejam realizados tratamentos que respeitem as condições dessa pele tão delicada e sensível.