Para que haja ganhos para ambos os lados – do ‘paciente modelo’ e do profissional de estética – e evitar problemas que podem chegar à Justiça, é preciso tomar precauções.
Parece a relação perfeita, em que há apenas ganhadores e boas experiências: de um lado, a pessoa que consegue fazer tratamentos estéticos a preço de custo, do outro, o profissional de estética que pode treinar técnicas, produzir fotos e vídeos para divulgação nas redes sociais e se desenvolver profissionalmente. Porém, a realidade pode se mostrar diferente se não houver um acordo claro entre as duas partes e a assistência não for realizada da maneira correta. “Por isso é que desde o início o profissional de estética deve documentar tudo o que foi dito e prometido ao ‘paciente modelo’, além de comprovar que essa pessoa está ciente do acordo que foi realizado”, avisa a advogada Jordana Afonso, especialista na área da estética.
Segundo ela, é preciso incluir no texto se a ‘paciente modelo’ precisará arcar com algum custo, de quanto ele será e ao que se refere, ou seja, se somente ao produto ou equipamento utilizado, em relação à mão de obra ou somente se houver a necessidade de correções e retoques. O documento também precisa conter a informação de quem vai realizar os procedimentos (se um profissional já habilitado ou em treinamento), se haverá correções e quem será o responsável por realizá-las, além de que o resultado poderá não ficar como o realizado por um especialista com experiência. “Mesmo com esse documento, é fundamental ter total zelo e pronto-atendimento caso ocorra alguma intercorrência com a ‘paciente modelo’”, reforça a advogada. Concorda com ela a especialista em harmonização facial Karina Barrelo, da Clínica Barrelo, que completa: “É fundamental que esse documento seja assinado, assim como o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o de uso de imagem. Faço isso porque utilizo ‘paciente modelo’ nos cursos que dou, para ensinar o aluno a aplicar técnicas sob minha supervisão, e também para preparar conteúdo para as minhas redes sociais e material de divulgação, quando sou eu quem realiza os procedimentos. E, para evitar problemas, todos os meus contratos são redigidos por advogados”.
Às claras
As redes sociais, em especial o Facebook e o Instagram, são alguns dos canais mais utilizados para buscar ‘pacientes modelo’. Como esse é o método usado por Karina Barrelo, ela conta a seguir suas experiências:
- “Faço filtros para aumentar as chances de escolher a ‘paciente modelo’ certa, o que evita perda de tempo e frustração tanto da minha parte quanto da pessoa. Para isso, começo postando que vou ter um curso xis e preciso de ‘pacientes modelos’, sem dar detalhes; e aviso que as interessadas podem ter mais informações clicando no link que redireciona para um atendimento via WhatsApp”;
- “As que clicam no link recebem um texto que faz uma pré-seleção natural, já que nele informo de maneira clara e objetiva que tipo de procedimento será realizado, qual o objetivo dele, para quem ele é indicado e contraindicado, seus possíveis efeitos colaterais, os custos envolvidos e a importância de vir à clínica no dia e horário agendado. Aviso que, se depois da leitura, a pessoa continuar interessada, ela deve enviar fotos e que entraremos em contato se o perfil dela se encaixar no que buscamos”;
- “Uma informação que precisa ficar bastante clara nesse documento é que se a pessoa for selecionada sua ida até a clínica não significa a certeza de realizar o tratamento. Afinal, a avaliação previa feita pelas fotos não é suficiente para o diagnóstico; e, no dia agendado, será preciso passar por uma consulta presencial comigo”;
- “Essa avaliação também é o momento para alinhar expectativas. Para isso, é muito importante que o profissional de estética ouça a ‘paciente modelo’, inclusive para se certificar de que ela entendeu o que será oferecido e que tipo de resultado esperamos alcançar”;
- “Um último conselho que dou é que ao pensar em solicitar uma ‘paciente modelo’ o profissional de estética tenha em mente que terá que fazer o acompanhamento pós-procedimento tal qual o de uma paciente ‘normal’. Na minha prática, a pessoa sempre sai da clínica com uma pasta contendo por escrito todas as recomendações que falei. Além disso, ligo no dia seguinte para pedir fotos, checar como ela está e agendar o retorno, que é feito comigo, e não com o aluno que realizou o procedimento. Assim, caso seja necessário fazer algum ajuste ou retoque, eu já realizo”.